A 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU (AGNU) começa hoje em Nova York. A chamada “semana ministerial da ONU” começa semana que vem.
Para a maioria das pessoas, a Assembleia Geral da ONU irá desencadear imagens de jornais do enorme salão familiar que conhecemos da televisão, das filas de delegados vestindo trajes típicos de seu país na esperança de que as câmeras não os flagrem fazendo careta ou conversando com seus amigos e, geralmente, de um Líder Mundial ou Ditador fazendo um discurso ofensivo sobre outro país.
Isso é parte do que acontece, mas não é tudo. Eu tive muita sorte de poder passar um ano trabalhando como assessor do presidente da Assembleia Geral. O presidente é o homem que senta no pódio atrás do Líder Mundial ou Ditador. Essa oportunidade me deu uma perspectiva única da Assembleia Geral e acesso completo a todas as partes do prédio da ONU – projetado por Oscar Niemeyer, o que foi uma boa preparação para Brasília.
A primeira coisa que notamos é que o que você vê na televisão corresponde a apenas um por cento do que acontece na Assembleia Geral. Os discursos de Presidentes e Primeiros-Ministros são importantes e roubam as manchetes de jornal (às vezes pelos motivos errados). A verdadeira ação na AGNU muitas vezes não acontece no salão da Assembleia Geral.
Essa ação inclui eventos formais de alto nível com discursos de Chefes de Estado. Durante meu período na ONU, eu organizei um evento de alto nível sobre HIV/AIDS, que ajudou a catalisar uma ação global que estabeleceu metas difíceis, entre elas a eliminação da transmissão de HIV/AIDS de mãe para filho. Chegar nessa fase envolveu um ano inteiro de trabalho árduo incluindo contato com governos, empresas de diversar áreas, incluindo finanças e indústria; e sociedade civil. Na próxima semana, o Secretário-Geral vai sediar uma reunião semelhante sobre mudanças climáticas, com o objectivo de reforçar o apoio antes das negociações do próximo ano, que visam combater as mudanças climáticas.
Além das grandes reuniões, haviam reuniões durante o café da manhã e discussões informais entre Ministros das Relações Exteriores, que procuravam encontrar soluções para os grandes problemas internacionais. Você pode apostar que este ano haverá muita discussão sobre a propagação do vírus Ebola, como lidar com a ação ilegal russa na Ucrânia e a ameaça do extremismo islâmico no Iraque e na Síria.
Além disso, existem centenas (talvez milhares) de reuniões bilaterais entre Presidentes, Primeiros-Ministros e outras autoridades. Essas incluem as chamadas “brush bys”, onde os chefes de dois países se encontram por apenas alguns minutos.
Quando você está no meio disso tudo, parece, às vezes, um evento gigante de speed-dating. Mas nada é deixado ao acaso, cada reunião é cuidadosamente planejada e organizada. Muitas vezes a rota de um Primeiro-Ministro ou Presidente, entre uma reunião e outra, tem de ser minuciosamente planejada a fim de garantir que ele ou ela não se cruze com a pessoa errada no corredor. Se você estava participando de uma reunião fora do complexo da ONU, você precisa de muita sorte para garantir que não vai ficar preso do lado errado da rua quando uma comitiva atrás da outra bloqueia a rota para lá.
O mais perto que cheguei da Assembléia Geral esse ano é o modelo de lego do prédio da ONU que eu tenho na minha sala. Mesmo assim, vou ficar atento aos procedimentos e esperar que algum progresso seja feito em alguns dos grandes desafios que todos da comunidade internacional enfrentam.