Quando Almeida Júnior pintou O Caipira Picando Fumo, em 1893, obra que tão bem retratou o homem comum do interior de São Paulo, não imaginou que 122 anos depois o caipira andaria por aí apreciando óperas de grande qualidade, produzindo cultura urbana em suas mais variadas manifestações, viajando ao exterior e apreciando a culinária internacional, dirigindo Land Rovers, produzindo tecnologia de ponta nas áreas médica e odontológica, ou liderando um dos mais importantes hospitais universitários da América do Sul. E tudo isso sem perder o gosto pelo pé-no-chão, pelo fumo de corda, pela pinga artesanal, pelas boas histórias, e pela música de raíz. E sem perder, também, aquele sotaque que volta e meia esquece do plural ou lembra o inglês pelo exagerado som do r… O Caipira continua sendo, acima de tudo, um trabalhador dedicado e atento à excelência em tudo o que faz e um valorizador da boa convivência. O ribeirão-pretano, aquele nascido ou criado em Ribeirão Preto, como é meu caso, é esse caipira moderno que Almeida Júnior talvez jamais pudesse ter imaginado à sua época.
A 316 km da capital São Paulo, Ribeirão Preto ostenta o título de Capital Brasileira do Agronegócio dada a expressiva produção e desenvolvimento das cadeias produtivas e tecnológicas da cana-de-açúcar– a primeira região no Brasil e quarta maior na produção mundial –, café e laranja. A mesorregião de Ribeirão Preto é formada por cerca de 70 municípios e quase quatro milhões de pessoas. Ribeirão é casa para mais de quarenta instituições de ensino superior, técnico e tecnológico, dentre elas a USP e sua magnífica cidade universitária que inclusive deu à sede da instituição, em São Paulo, seu atual reitor. Estima-se que mais de 100 mil dos quase 700 mil habitantes da cidade estejam aqui por motivos ligados à educação. A excelência no desenvolvimento tecnológico de equipamentos médico-odontológicos tem cerca de 60 empresas atuantes no setor que exportam para mais de 150 países e têm um faturamento anual médio de R$ 300 milhões.
Em 2013, com expansão da rede de Cônsules Honorários Britânicos no Brasil, tive a honra de ser convidada para representar o Reino Unido em Ribeirão Preto com foco inicial em agronegócio, educação e tecnologia.
Como fragmentar, categorizar e traduzir a cidade que me criou? Aqui vemos caminhonetes com suas rodas gigantes e marcas de barro da fazenda explorarem as largas e urbanizadas avenidas locais – e que ainda dividem espaço com cavalos e charretes. Lugar onde marcas inglesas como Mini Cooper, Forever 21 e Burberry fazem tanto sucesso quanto o tradicional sorvete do Geraldo da Avenida Saudade.
Chegar a Ribeirão é sempre um prazer. As rodovias de altíssimo nível que nos conectam pelo interior de São Paulo, Minas e Mato Grosso do Sul impressionam os visitantes e facilitam a logística das indústrias e empresas com sedes na região. Nosso aeroporto nos conecta com São Paulo em 50 minutos, Brasília ou Rio em 1h30, e Recife em 3h.
Dizem que o ribeirão-pretano é bairrista ao promover e defender sua cidade… Mas como não o ser tendo um dos maiores IDHs do país, um dos maiores teatros de ópera do Brasil com coro e orquestra próprios além de diversos grupos de teatro e música, e uma bela paisagem urbana e rural? Gostamos dos rankings, dos títulos e dos grandes números: já fomos a Capital do Café na virada do século XIX para o XX pela pole position da produção mundial. Já fomos a Capital do Chopp por causa de nossa Cervejaria Pinguim, e agora a tradição se mantém pelas cervejarias artesanais, como a Colorado. Fomos também a Capital do Açúcar e Álcool a partir de 1960 e principalmente durante o Programa Nacional do Álcool que incentivou o uso do álcool anidro como aditivo à gasolina. Chegaram também a dizer que éramos a Califórnia Brasileira por causa dos altos números marcados nos termômetros e nas contas bancárias! Hoje em dia, graças às receitas geradas pelo agronegócio, Ribeirão desenvolveu o comércio e a prestação de serviços. Aproximadamente 80% dos trabalhadores com carteira assinada no município atuam nesses segmentos.
Somos bons em nossos grandes eventos, também. O Ministério Brasileiro do Turismo apontou Ribeirão como um dos 10 melhores destinos turísticos do país, em especial para eventos e negócios. A Agrishow, principal feira agropecuária da América Latina que em 2015 movimentou US$ 17,2 milhões somente em negócios internacionais, é um bom exemplo. Nossa Feira do Livro, umas das maiores das Américas, atraiu 450 mil visitantes em 2014.
Para um futuro próximo, podemos vislumbrar também oportunidades nas áreas de sustentabilidade, dado que Ribeirão é zona de recarga do Aquífero Guarani, a segunda maior reserva subterrânea de água doce do mundo, e concentra uma cadeia produtiva experiente na obtenção de energia limpa por meio do etanol. Tudo isso somado à excelência acadêmica de nossas universidades e polo tecnológico, e ao dinamismo do setor privado tornam a cidade um excelente fórum para o debate de problemas de alcance e preocupação globais.
Pensando nisso, por meio da ativa Associação Comercial e Industrial de Ribeirão, em 2014 criamos o Conselho de Cônsules, reunindo os Cônsules Honorários locais de Alemanha, Espanha, Itália, Portugal e Reino Unido. O Conselho tem como principal meta promover o debate sobre oportunidades e vocações internacionais da cidade e auxiliar inciativas de mão-dupla com vistas à maior internacionalização da região.
Em seu hino, o Caipira de Ribeirão canta em alto brado que somos orgulho de São Paulo e do Brasil. No mesmo hino insistimos: se em ti, amada terra temos tudo, ainda procuramos dar-te mais!
Email: jaquewilkins@gmail.com