22 de Maio é o Dia Mundial da Biodiversidade, um dia para aumentar a compreensão e a conscientização sobre questões de biodiversidade. O tema escolhido para 2015 foi “Biodiversidade pelo Desenvolvimento Sustentável”, reflete a importância dos esforços para estabelecer um conjunto de objetivos de desenvolvimento sustentável (SDGs) como parte da agenda para o desenvolvimento pós-2015 da ONU, e ressalta a importância da biodiversidade para a conquista de um desenvolvimento sustentável.
Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra, formando o maior habitat no planeta, enquanto as áreas costeiras contêm alguns dos ecossistemas mais diversificados do mundo produtivo, incluindo manguezais, corais de recifes e gramíneas marítimas. A costa brasileira tem 7.491 km, tornando-o o 16º maior litoral nacional no mundo e, além disso, o país tem a maior diversidade biológica do mundo. Levando isso em conta, nós convidamos a Doutora Lúcia Woodall, associada científica do Museu de História Natural em Londres, que é também especialista em cavalos-marinhos, para nos explicar um pouco sobre estas belas criaturas presentes nas águas brasileiras.
Tendo crescido na costa do Reino Unido, achei que conhecia todas as incríveis criaturas que viviam nas águas frias do mar, até que um dia… enquanto mergulhava, vi um cavalo-marinho pela primeira vez. Passados quinze anos, concluí meu doutorado sobre esta incrível família de peixes e realizei pesquisas como bióloga marinha no Museu de História Natural em Londres. Por isso, estou animada em compartilhar os aspectos particulares da vida de um cavalo-marinho e a forma como esses peixes são uma espécie exemplo quando se trata da importância da conservação da biodiversidade.
Como macacos
Embora os cavalos-marinhos não tenham a forma convencional de um peixe, eles são peixes. Eles têm duas pequenas barbatanas, uma dorsal (nas costas) para movimentar-se paa frente, e outra no peitoral (laterais) para girar. Eles possuem ainda uma cauda tenaz, a qual utilizam do mesmo modo que os macacos para segurar objetos. Esta cauda é especialmente importante quando eles vivem em águas com grandes correntes, como, por exemplo, em estuários, e eles a usam para se segurar em objetos e para aguardar comida que passe por eles.
Leais
Dos cavalos-marinhos selvagens que estudamos, a maioria das espécies parecem ser monogâmicas, pelo menos por uma temporada de reprodução. Isto significa que o mesmo par de macho e fêmea irá reafirmar a sua ligação, fazendo um ritual de dança do acasalamento todas as manhãs, que é como uma dança no fundo do mar.
Bons pais
A mais conhecida característica dos cavalos-marinhos é que eles têm um raro sistema de acasalamento. A fêmea dá seus ovos para o macho, que os fertiliza e os carrega na sua bolsa por algumas semanas até dar à luz. Enquanto estão na bolsa, o pai cuida dos ovos, assegurando que recebam nutrientes e níveis de oxigênio corretos. Cavalos-marinhos em geral têm cerca de 100 a 200 filhotes em uma ninhada. Quando nascem, eles parecem miniaturas de cavalos-marinhos adultos!
Ameaças
Há ameaças diretas e indiretas aos cavalos-marinhos. Assim como todas as espécies marinhas, há condições ideais para que possam sobreviver, mas essas condições podem mudar de acordo com poluentes, desenvolvimento costeiro ou alterações climáticas. Cavalos-marinhos são alvo de pesca, já que são usados em medicamentos tradicionais, como souvenir ou peixes de aquário. Eles podem ainda ser capturados acidentalmente em redes de pesca, especialmente em redes de arrasto utilizadas para capturar camarões.
Biodiversidade
Cavalos-marinhos são considerados espécies que exemplificam a importância da conservação do ambiente marinho, e isto é porque eles são carismáticos e facilmente reconhecíveis, podendo ser encontrados em todo o mundo, inclusive em alguns dos habitats mais ameaçados como nas pradarias, manguezais, recifes de coral e estuários. Por isso, como se costuma dizer no Projeto Seahorse: “salvar o cavalo-marinho significa salvar os nossos mares”. Quanto mais habitats pudermos conservar, maior será a biodiversidade do nosso planeta.
No Brasil
Três espécies de cavalos-marinhos podem ser encontrados no litoral brasileiro. Uma dessas espécies, o Hippocampus patagonicus, só foi recentemente diferenciada do Hippocampus erectus, sendo considerada uma espécie separada. Pode ser difícil distinguir diferentes espécies já que cavalos-marinhos podem mudar de cor e padrão para combinar com seu habitat, e por isso estas características não podem ser usadas na identificação de espécies. Além disso, cavalos-marinhos parecem ser capazes de alterar outros aspectos da sua forma corporal, tais como o tamanho dos filamentos da pele que podem crescer ao longo de seu corpo. Muito do nosso conhecimento sobre as outras espécies Hippocampus reidi foi obtido através de pescadores que relataram quedas nas populações, demonstrando a importância de se trabalhar com as comunidades locais.
Em suma, os cavalos-marinhos em todo o Brasil são grandes exemplos de como o conhecimento tradicional pode ser integrado à pesquisa científica para fazer análises de biodiversidade.
Para mais informações sobre o Dia Mundial da Biodiversidade acesse www.un.org/en/events/biodiversityday
Clique aqui para mais informações sobre o Museu de História Natural em Londres