Há três anos, eu estava visitando Assuã, no sul do Egito, com dois amigos. Queríamos uma folga do programa voluntário de 6 semanas do qual participávamos. Saímos para jantar e, no caminho de volta ao hotel, imagens em uma loja de TV chamaram nossa atenção: um mundo de pessoas reunidas e cantando na Praça Tahrir. Intrigadas, perguntamos ao nosso amigo egípcio que filme era aquele, ele disse “não é um filme, essas são imagens ao vivo da Tahrir”. Quando voltamos no dia seguinte, encontramos um Cairo caótico, barulhento, vibrante e exigente.
De vez em quando, penso na sorte que tive de estar no Egito quando essa bela revolução, que começou na Tunísia, chegou ao país: a Primavera Árabe! Jovens egípcios tomaram a Praça Tahrir (Praça da Libertação em português) para exigir o fim da corrupção e da violência das forças policiais, melhores condições de vida, acesso a serviços básicos e, é claro, a destituição de Hosni Mubarak. No dia 11 de fevereiro de 2011, Mubarak renunciou e em 2012, a Irmandade Muçulmana elegeu Mohamed Morsi para presidente. Cerca de um ano depois, no dia 30 de junho 2013, vimos outro protesto, dessa vez contra o presidente Morsi e alguns argumentam ter tido o maior número de manifestantes em um evento político na história da humanidade. Dias depois, o exército egípcio derrubou Morsi.
A estrada é longa para o Egito. Três explosões ontem, um dia antes do aniversário da Revolução de 25 de Janeiro, mataram pelo menos cinco pessoas e feriram outras 70 no Cairo. Também nessa semana, um referendo terminou com 98% de votos em apoio à nova constituição com o (já esperado) boicote da Irmandade Muçulmana. Críticos afirmam que a nova constituição dará mais poder no dia-a-dia para as elites militar e política do país, enquanto outros acreditam que haverá uma melhora em questões de direitos humanos.
Para mim, a Primavera Árabe provou que as mídias sociais são um catalisador para os movimentos sociais e para a participação política, tendo se espalhado pelo mundo (Turquia , Brasil e Ucrânia são exemplos mais recentes). Acredito que ainda vamos ouvir falar muito de jovens e mídias sociais nos próximos anos.