É nessa época do ano que muitos de nós começam a pensar no ano que se aproxima, e nos questionamos sobre o que está a nossa espera. Felizmente, 2015 já foi retratado e capturado em filme, há 25 anos, em De Volta para o Futuro II. OK, ainda estamos à espera das hoverboards (skate voador), mas o filme parece ter acertado quanto à TVs de tela plana, Skype, monitores acoplados à cabeça, vídeo games sem controle e as câmeras em todos os lugares.
Contudo, antes de pensarmos no que pode vir a acontecer, vamos pensar como nos saímos na ultima previsão? O eloqüente Oliver Stuenkel, de Pós Western World, também acertou em suas previsões para 2014, embora não houvesse tanta notícia boa como esperávamos, incluindo a questão iraniana e a ascensão da África. Assim, as eleições brasileiras foram, provavelmente, as mais fáceis de serem previstas, tendo como o resultado a vitória histórica de Dilma Rousseff – muito mais notória em fevereiro do que nos meses finais. O Guia de Blefes do The New Yorker para 2014 conseguiu prever alguns pontos, especialmente os pessimistas – como o processo de paz no Oriente Médio sem progressos, a adiada resolução para paz na Síria e (temo eu) o Brasil não ter ganhado a Copa do Mundo. O que ninguém esperava – de forma plausível – foram duas crises que dominaram o ano: a epidemia do Ebola e anexação da Ucrânia Oriental pela Rússia. E pouquíssimos que estavam fora de Washington ou Havana – talvez também do Vaticano – previram o recente anúncio sobre a retomada das relações entre os EUA e Cuba.
De um modo geral, estamos muito propensos a prever fatos que gostaríamos de ver acontecer (por exemplo, a queda de Assad ou uma ação coletiva contra ameaças comuns). O preço do petróleo continuará a ter um impacto em 2015, o que talvez seja melhor para o crescimento global, mas é uma séria dor de cabeça para os produtores, incluindo Venezuela e Irã. Isso também afetará o comportamento da Rússia, especialmente em sua vizinhança. O Estado Islâmico continuará sendo um grande desafio à segurança, embora possa haver mais razões para depositar maior otimismo no Iraque do que na Síria. O crescimento chinês parece determinado a atenuar, devido a suas próprias normas, o crescimento dos EUA continua, enquanto o Brasil e muitos outros têm algumas árduas decisões econômicas para tomar no âmbito interno. Os problemas cibernéticos continuarão aparecendo, com ou sem a Coréia do Norte e o James Franco.
No ano do 70º aniversário da ONU, grandes eventos multilaterais ocorrerão, podendo desafiar ou reforçar o sistema internacional. A busca de um sucessor para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a denominada agenda pós-2015, chega ao fim – o desafio será acomodar uma ampla gama de pontos de vista de uma forma concentrada e comensurável. Os debates sobre as mudanças climáticas terão um novo marco categórico em Paris, no final do ano, já que as negociações da UNFCCC tentam chegar a um acordo ambicioso que nos levará para além de 2020. Antes disso, a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares provavelmente será difícil e politicamente saturada. E olhando para o passado, nós também vamos marcar os aniversários sombrios de Auschwitz, Ypres, Hiroshima e Srebrenica, bem como 800 anos da Magna Carta.