Avatar photo

Matt Field

British Diplomat

Part of Speakers' Corner

16th November 2013

O primeiro passo é aprender a língua

“O primeiro passo é aprender a língua. A língua é a chave para a cultura de um povo, e a cultura é a chave para o coração das pessoas. Quando obrigamos alguém a falar a nossa língua, deixamos de conquistar a sua simpatia.”  Sergio Vieira de Mello, Diplomata da ONU

LanguagesÉ justo dizer que os britânicos não têm uma boa reputação como aprendizes de outras línguas. O estereótipo de um britânico no exterior é alguém que, para ser entendido, começa a falar inglês mais pau-sa-da-men-te e mais ALTO. O número de estudantes britânicos do ensino médio que estudam outros idiomas vem caindo ano após ano, embora essa tendência possa ser revertida se tais disciplinas se tornarem compulsórias no novo exame de conclusão do ensino médio, o English Baccalaureate. Vale lembrar, também, que a forte prevalência da língua inglesa no mundo todo acabava por desencorajar os britânicos a se esforçarem a aprender outros idiomas, como fazem tantos estudantes de inglês.

Uma boa notícia é que o Serviço Diplomático do Reino Unido acaba de duplicar seus esforços na área, o que fornecerá a seus diplomatas a capacitação lingüística necessária para serem bem sucedidos pelo mundo. Em setembro, o Ministro das Relações Exteriores, William Hague,inaugurou um novo centro de idiomas onde diplomatas britânicos podem desenvolver e aperfeiçoar seus conhecimentos linguísticos antes de serem removidos para outros países. O centro ministrará 70.000 horas de aulas por ano a 1.000 estudantes em 70 idiomas variados –  que vão do árabe ao zulu! O objetivo é aumentar em 40% os falantes de mandarim, e em 20% os de árabe, português e espanhol.

Muitas pessoas se surpreendem pelo fato de o Ministério das Relações Exteriores britânico não exigir, na fase de recrutamento, fluência em idiomas específicos– em contraste com as provas de inglês, francês e espanhol que constam do processo seletivo para o Instituto Rio Branco. (Há muitas outras coisas que não são exigidas de nós, diplomatas britânicos – mas isso é assunto para outro blog.) Na verdade, nós somos avaliados em nossa aptidão para línguas modernas, em um fascinante exercício de 3 horas com um idioma completamente novo – o meu foi o curdo!

Todavia, a maioria de nossas funções em outros países inclui algum tipo de estudo prévio de línguas. Eu sou, na verdade, uma espécie de geek de idiomas – o tipo de pessoa que poderia passar horas jogando isso – portanto, para mim seria difícil imaginar uma carreira melhor. Quando fui selecionado para vir ao Brasil, tive seis meses para aprender português, partindo do zero. (Anos atrás, também aprendi croata antes de minha remoção para Zagreb.) Graças a professores brasileiros fantásticos (e pacientes), cheguei ao Brasil com um nível de português suficiente para minhas necessidades profissionais básicas. Semana passada, fiz o exame avançado, o que deve significar que já posso lidar com a maioria das situações.  E o que isso quer dizer? Aqui temos nosso Embaixador, Alex Ellis, pondo seu português em prática com Jô Soares.

E por que isso tudo é importante? Bem, isso nos remete à citação acima de Sergio Vieira de Mello, um brasileiro que passou sua carreira na ONU conquistando os corações e as mentes das pessoas em algumas das situações mais difíceis que podemos imaginar. Basicamente, falar a língua de alguém demonstra que você se importa, que você respeita essa pessoa e a leva a sério, e que você quer ouvir o que essa pessoa tem a dizer. Portanto, não é só uma questão de falar, mas também de ouvir um idioma estrangeiro. E não há nada mais importante na diplomacia do que isso.

Lembro-me de uma história (não oficial) que ouvi uma vez sobre Henry Kissinger. Um jornalista perguntou a seu irmão mais velho porque ele perdera totalmente seu sotaque alemão ao passo que o mesmo não aconteceu com Henry durante o mesmo período. O irmão respondeu que, para perder seu sotaque, você precisa ouvir.