22nd October 2014 Brazil
Ciência e Desenvolvimento – Fundo Newton traz uma nova agenda de colaboração entre Reino Unido e Brasil
Guestblog por Rui Lopes
A ansiosa espera pela chuva que hoje permeia a mente de paulistas e cariocas me traz lembranças da infância no árido Nordeste brasileiro, onde ela é sempre tão aguardada por todos como um sinal de continuidade da vida e da prosperidade. A atual seca experimentada na região Sudeste brasileira infelizmente não é uma exclusividade nossa. Mais longas e frequentes, elas preocupam sociedades da Califórnia à Austrália.
São sinais evidentes de que, de fato, temos recursos limitados e, sobretudo, os desafios são globais. E infelizmente a finitude não é exclusividade dos recursos naturais. Temos fronteiras do conhecimento que ainda nos encarceram e que expõem à fragilidade da existência humana. As fronteiras nacionais, por sua vez, não estão imunes ao Ebola nem aos desastres naturais.
Algo intrisicamente humano está impresso na origem e desenvolvimento da ciência, nossa curiosidade. É o sentimento de compartilhar a mesma curiosidade que une pesquisadores e cientistas de diversas partes do mundo em torno de um mesmo desafio. A ciência é capaz de minimizar distâncias sociais e culturais entre povos e nações. A expedição de Darwin e seu navio Beagle foi certamente uma grande prova disso. Seus trabalhos no Rio de Janeiro em 1832, pavimentaram os primeiros caminhos da curiosidade que brasileiros e britânicos viriam a compartilhar. A botânica inaugurava ali um histórico de colaboração científica nas mais diversas áreas do conhecimento entre os dois países.
A contribuição do Royal Botanical Gardens Kew com o Programa REFLORA de repatrimento digital da flora brasileira tem na sua ascendência aqueles primeiros passos. Por meio do Fundo Newton, o Governo Britânico em 2014 reafirmou seu compromisso com uma ciência genuinamente internacional, comprometida com o desenvolvimento social e o combate à pobreza. Desde o seu lançamento, assim como o REFLORA, programas com diversas instituições brasileiras – CNPq (Conselho Nacional para Desenvolvimento Científico e Tecnológico), CONFAP (Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa), SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), SENAI (Serviço Nacional de Apredizagem Industrial) – foram beneficiados com recursos dos dois países.
Claro, os britânicos não poderiam deixar de homenagear um de seus maiores curiosos ilustres, Isaac Newton! Lançado no Brasil pelo Ministro das Finanças britânico George Osborne, o Fundo Newton de fomento à pesquisa e inovação em países emergentes investirá £75 milhões (aprox. R$ 262 milhões) em diversos programas que contemplam mobilidade, pesquisa e capacitação em 15 países até março de 2015. No Brasil, deverão ser investidos £27 milhões (aprox. R$ 94 milhões) até 2017 – o maior orçamento para parcerias da missão diplomática britânica no Brasil.
Como parte desse novo momento, na semana passada, o Reino Unido foi destaque da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação – ao trazer a palestra do Prof. Phill Macnaghten “Governing GM Crops: Global Lessons for Inclusive Agricultural Development” e celebrar uma série de novas iniciativas com CAPES, CNPq e CONFAP. O palestrante destacou a responsabilidade social que a ciência tem para debates de relevância para a sociedade como no caso dos transgênicos.
O Fundo, portanto, traz um novo paradigma nas relações globais de colaboração científica em áreas como agricultura, saúde, mudanças climáticas e desenvolvimento urbano. De pesquisadores a governantes, vem estabelecendo e consolidando parcerias inovadoras nos países onde atua.
Assim a ciência deve ser vista. Como instrumento de transformação social e aproximação entre povos. Nossos recursos são limitados. A curiosidade humana não.
Rui tem formação em Relações Internacionais e viveu nos EUA, Alemanha e Moçambique estudando e trabalhando com estudos de desenvolvimento relacionados a agricultura familiar, educação e desenvolvimento urbano. Desde 2012, ele tem trabalhado com diplomacia em ciência nos postos diplomáticos britânicos em São Paulo e Brasília e atualmente é Gestor do Fundo Newton. De Fortaleza, no litoral do nordeste semi-árido do Brasil e ainda uma das áreas mais pobres do país, é um viciado em viagens.