As relações culturais são ações inseridas na realidade prática de cada internacionalista, diplomata ou politólogo. Essas relações se ampliaram, e o especialista tem a oportunidade de vislumbrar um leque abrangente de temas que mostram a necessidade de se ajustar, de se organizar e interagir com o mundo, por meio de uma demanda constante de intercâmbio econômico e cultural. Através desta nova contingência, o Brasil necessitou se adequar à nova realidade internacional e buscar um papel de maior relevância no cenário externo.
O desenvolvimento brasileiro das últimas duas décadas, aliado ao crescente envolvimento do Brasil nos grandes temas internacionais são respaldados por uma política externa que visa a uma inserção cada vez maior no cenário internacional. Conseqüentemente, o número de parceiros internacionais aumenta exponencialmente a cada dia, o que mostra a necessidade de se consolidar antigas parcerias, bem como atrair novas. Especialmente com os países asiáticos, que possuem uma riqueza cultural exponencial. Cito minha experiência no Japão, em Taiwan, nas Filipinas, na Índia, no Irã, imersos numa história milenar, na diversidade, no sincretismo religioso.
A cultura pode desempenhar um papel importante na superação de barreiras, na promoção da cooperação e na redução de desconfianças mútuas. Países como Estados Unidos, França, Reino Unido, Espanha, Alemanha e Japão, entre outros, já reconheceram o valor do uso da cultura como facilitador de sua inserção internacional. A fim de que estas metas sejam alcançadas e consolidadas, os objetivos de inserção internacional do país devem ser trabalhados a partir de algumas ferramentas teóricas que podem auxiliar na tarefa proposta, o ensino do idioma, aulas de culinária, e geopolítica. E o que é mais importante: o contato com os cidadãos.
A Diplomacia, considerada como um instrumento de execução da política externa de um Estado é uma atividade que desde as mais remotas épocas sempre necessitou de habilidades inteligentes, ações cuidadosas, postura ilibada e conhecimentos atualizados dos fatos. Sempre analisei o Country Profile do país, antes de uma viagem internacional, para que as negociações pudessem ser conduzidas com seriedade. Os documentos oficiais não bastam, é preciso vestir-se conforme as regras oficiais do país, respeitar a cor, evitar roupas que possam afrontar os costumes. Sempre uso roupas clássicas, e agreguei ao meu guarda-roupa, burcas para os países islâmicos, véus, lenços, sapatos fechados com meias pretas, e nada de transparências, ou saias justas. Passei por constrangimentos em Teerã, quando meu véu desprendeu-se do cabelo ao atravessar o saguão do hotel Laleh em Teerã. Mas, vencido o impasse, me apaixonei pela comida iraniana.
Nesse sentido se ressalta o papel da Diplomacia cultural, que vai aportar insumos incontáveis numa sociedade que se transforma de uma concepção puramente política para uma sociedade predominantemente econômica. A cultura cria elos antes inexistentes entre os diferentes povos, ela independe de origens, localização geográfica, economia. Ela possui um caráter universal, pois seu alcance é infinito. A cultura de um país representa sua identidade, aquilo que o difere de outras nações. A cultura, como instrumento diplomático de política externa, proporciona ao Estado facilidades de inserção internacional, o que redundará no balizamento dos eixos da diplomacia, o que foi feito em âmbito global no governo Lula. Lula inseriu a comida típica brasileira nos jantares oficiais, a caipirinha, o pão de queijo, o doce de leite. Encontrei Guaraná Antarctica na região de Jericó em Israel, rapadura na China, caipirinha Garota de Ipanema em Bielefeld, na Alemanha. Mas, passei apuros no Panamá, em plena mesa de almoço na Gubernadoria, quando nos foi servida uma sopa de vongole. Uma de minhas alunas assustou-se quando viu que a concha se abriu e imaginou que o molusco piscava para ela. Tive que acalmá-la carinhosamente, mas o pior estava por acontecer! Depois de uma farta refeição, terminada a sobremesa, pediram-me para provar o ceviche típico do local. Meus alunos olhavam para mim e diziam: – Sorria professora, seja diplomática! Na verdade, adoro conhecer cada país, cada cultura, cada comida típica, seja filé de cobra ou tubarão!
Os eixos da diplomacia brasileira adquiriram ênfase maior ou enfoques diferentes no governo atual com Dilma Rousseff. Tanto do ponto de vista de inovações doutrinárias da política de Lula, como em função da alteração das circunstâncias ou do aparecimento de oportunidades, num contexto de novos agrupamentos do G-20, BRICS, Fórum de Diálogo Índia – Brasil – África do Sul (IBAS), Aliança do Pacífico, ASPA, BRASIL-CARICOM, FOCALAL, CPLP, dentre outros.
Como reflexão final, considero a cultura como fundamental para os destinos de uma nação e o desenvolvimento de seus cidadãos. Em suma, não pode haver desenvolvimento sem a garantia de direitos e liberdades: direito à saúde, à educação, à moradia; liberdades políticas, culturais, étnicas e religiosas. Independente da posição weberiana da neutralidade ética diante do fenômeno cultural dotado de fecundidade econômica e social, a cultura mostra-se essencial para a vida de um povo.
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Leila Bijos é doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), professora adjunta do Mestrado em Direito da Universidade Católica de Brasília, pesquisadora visitante da Universidade da Califórnia em San Diego, U.S.A, e da Universidade de Tsukuba, no Japão. Email: leilabijos@gmail.com – lbijos@ucb.br.