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A vida numa cidade sem esquinas

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Em maio deste ano aterrissei em Brasília, cidade construída propositadamente para ser a capital do Brasil, composta por múltiplas pistas, redes rodoviárias confusas e curvas, arquitetada a base de concreto. Depois de cinco semanas fazendo um treinamento de língua portuguesa em Campinas, Brasília marcou o início da minha primeira remoção e também da minha primeira vez na América do Sul.

6 meses se passaram, e parece-me um ótimo momento para refletir sobre a minha vida e trabalho em Brasília.

Primeiro de tudo, devo ressaltar que gosto de Brasília. Já me acostumei com os brasileiros me dizendo o quanto sentem muito por eu não estar morando no Rio, e me alertando sobre as estradas intermináveis, o sol escaldante e as ruas sem alma. A cidade pode não ser a imagem de cartão-postal do Pão de Açúcar que a maioria dos britânicos imagina quando se pensa no Brasil, mas depois de Londres, a arquitetura futurista, o céu azul e as opções alternativas de entretenimento fazem dela uma mudança bem-vinda. É uma cidade nova, ainda se definindo, e também um caldeirão de mistura: primeira, segunda e terceira gerações de brasilienses, os funcionários do governo de todo o país, bem como uma série de diplomatas, fazem de Brasília uma combinação interessante.

O Brasil também parece estar mais longe do que eu esperava. Não só devido ao voo de 14h para o Reino Unido, mas também por causa da localização, o tamanho e os problemas que preocupam as pessoas. No Reino Unido, a maioria das capitais europeias está acessível em um voo de duas horas, além disso, podemos chegar a África Ocidental e Oriente Médio em menos de 6 horas. As notícias que circulam no Reino Unido são frequentemente dominadas por eventos e ameaças vindas de países próximos e o impacto que eles têm no Reino Unido – incluindo a migração e o extremismo. Em Brasília, a maioria das outras cidades brasileiras estão acessíveis em um vôo de duas horas. As notícias aqui abordam assuntos sobre lugares longínquos, mas em sua maioria não tem imediata implicação doméstica e nem medo associado.

Enfim, entender o Itamaraty, o que seria equivalente ao Foreign and Commonwelath Office (em português: Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido), me ajudou a aprender sobre o serviço diplomático britânico. Detalhes corporativos, tais como recrutamento, remoções e treinamento, definem a maneira na qual um Ministério das Relações Exteriores funciona, estabelece suas políticas e também se projeta no exterior. No Reino Unido, nós passamos por vários testes de competência para entrar no serviço diplomático – os examinadores analisam os comportamentos e as habilidades inatas para identificar futuros diplomatas. Em seguida, iniciamos o trabalho após uma imersão de duas semanas e dois anos depois mudamos para o exterior. Aqui, os futuros diplomatas fazem um teste extenso e detalhado, que exige significativa preparação, e depois passam por um treinamento intenso antes de começarem a trabalhar efetivamente. Nenhum caminho está certo ou errado, mas eles produzem diplomatas com perfis diferentes como resultado.

Eu ainda estou aprendendo, o Brasil não é um país fácil de entender. Até agora o meu trabalho foi centralizado em Brasília, focado em política externa brasileira. Ao longo dos próximos anos, espero aprender mais sobre a cultura, a história e a geografia do Brasil, viajando pelo maior número de estados possível, conhecendo brasileiros de diferentes esferas da vida e aprendendo a fazer uma caipirinha perfeita.

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