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20th November 2014 Brazil

A experiência de ser negra no Reino Unido e no resto do mundo

A Primeira Secretária para Prosperidade da Embaixada Britânica no Brasil, NneNne Iwuji-Eme, fez um discurso esta semana durante a palestra ‘Relações Raciais no Brasil e no Reino Unido’, na Fundação Escola de Sociologia de São Paulo. Gostaríamos de compartilhar aqui esse discurso no Dia da Consciência Negra no Brasil (20/11):

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O assunto da experiência negra na ensino superior no Reino Unido é tão amplo e interessante, que é difícil pensar em um ponto para começar. Por isso, talvez faça sentido começar com minha história, a de uma mulher britânica negra de família Nigeriana, que foi para a universidade no Reino Unido. Qual foi minha experiência no sistema de ensino superior no Reino Unido? Mias importante que isso, como eu cheguei lá e quão comum é a minha história?

Deixe-me começar por dizer, e eu vou explicar por que isso é importante logo. Eu posso dizer que tive uma vida privilegiada. Meus pais eram diplomatas que trabalhavam para a ONU. Ambos tinham mestrado e doutorado. Na minha casa, a questão não era se eu iria para a universidade, mas quantos diplomas você iria conseguir. Eu fiz doutorado, minha irmã está recebendo o dela, meu irmão mais novo tem mestrado e a maior discordância do meu pai com meus irmão mais velhos é que eles não queriam diplomas de pós-graduação depois da graduação. Por que isso é importante? É importante pelas seguintes razões. Quando você olha para a representação de negros e grupos étnicos minoritários em universidades no Reino Unido, ela é alta. Um em cada seis estudantes ou 16% da população estudantil são de minorias. No entanto, quando você olha mais de perto, as circunstâncias econômicas são um fator importante e determinante.

Até chegar a universidade, eu só conhecia outras pessoas negras com experiências semelhantes as minhas, com pais semelhantes aos meus, graduados profissionais que esperavam todos os seus filhos irem para a universidade. Quando cheguei à universidade eu conheci outras pessoas negras, para quem a realidade era muito diferente, dado o contexto cultural de sua experiência no Reino Unido. Porque classe, cor, cultura e contexto, neste caso contexto econômico devem ser levados em conta. Foi na universidade que eu conheci a primeira negra da minha geração que foi a primeira de sua família a ir para universidade. Estou falando de minha melhor amiga. Sua história não poderia ser mais diferente da minha. Sua família vem do Caribe e seu contexto cultural é focado na importância de terminar o ensino médio para conseguir então um bom emprego e ter segurança. Para sua família, um diploma universitário, por mais que admirável não significa segurança, e mais importante que isso, os pais não tinham meios para sustentá-la durante os anos na universidade. Então, ela era um pouco mais velha que os outros estudantes e tinha trabalhado e guardado dinheiro para poder pagar a universidade.

Há duas histórias da experiência negra nos últimos 70 anos no Reino Unido. Deixe-me ser clara. Sempre houve pessoas negras livres no Reino Unido desde o século 16. Eu estou falando mais sobre os últimos 70 anos – que moldaram a experiência dos negros hoje no Reino Unido. Você tem a história do negro africano e a história do negro do Caribe. Para a maioria dos negros africanos da geração de meus pais, eles vinham para estudar e obter uma habilidade e depois, voltavam para África. Mas os negros caribenhos, como os pais da minha amiga, vieram pós segunda guerra mundial em busca de uma vida melhor, de um trabalho com o objetivos de ganhar melhor. Muitos vieram com sonhos de estudar em uma universidade e tornar-se profissionais. No entanto, a realidade que eles enfrentaram foi dura, um racismo que fechou portas. Foram relegados a empregos que outros não queriam e passaram por circunstâncias econômicas duras. E não tiveram suas qualificações anteriores reconhecidas no Reino Unido. Assim, você pode entender por que os pais da minha amiga não consideraram uma diploma como uma prioridade para a filha deles isso baseado na experiência deles.

O racismo junto com uma dificuldade econômica desfavorecida pode roubar-lhe a confiança em se mesmo, fazer você questionar-se e duvidar de sua capacidade de alcançar seus sonhos. Isso também rouba o país de um maior potencial de sua população maravilhosamente diversificada.

Sem confiança você não pode enfrentar desafios ou você pode perder oportunidades. Minha formação me deu a confiança para ir em qualquer lugar. Se eu quisesse alcançar alguma coisa pergunta a se fazer não e si o consigo, mas sim como? Por exemplo, eu estudei em uma escola particular muito boa privado no Reino Unido e quando eu estava prestes a sair, encontrei-me com conselheiro vocacional da minha escola para discutir meus planos para universidade e o futuro. Ela me disse que eu estava sendo muito ambicioso querendo ir para a universidade e que, em vez disso eu deveria procurar um trabalho. Isso apesar do fato de que eu já tinha sido aceite na universidade ou que os meus pais eram graduados. Quando eu falarei para meu pai sobre a conversa, primeiro ele disse que sua conselheiro vocacional não pagar suas taxas escolares e em segundo lugar você não precisar pedir permissão a ninguém para seguir o seu sonhos, continue trabalhando em buscar do seu objetivo ele disse.

Para muitos dos meus amigos do Caribe, seus pais não tiveram a sorte de ter uma experiência semelhante e acreditaram no conselho da escola e por isso, muitos desistiram ou demoraram para realizar seus sonhos. Eu vi isso quando eu entrei no Ministério das Relações Exteriores e encontrei uma série de minorias, pessoas altamente qualificadas com graduação que tinham entrado nos níveis hierarquicamente mais baixos, não condizente com seus diplomas. Quando lhes perguntei o por que eles disseram que achavam que o exame era muito difícil e não iam conseguir. Quando você não tem confiança, você não consegue ir muito longe. O seu progresso é determinado pelo medo e pelo que os outros pensam de você. Um amigo me falou recentemente de um menino negro de uma condição economicamente desfavorável que será o primeiro a frequentar uma universidade em sua família e foi aceito em Cambridge, mas recusou porque ele estava com medo de não haver ninguém igual a ele lá. Quando eu me candidatei a Oxford há muitos anos atrás, não fui aceita. Então eu escrevi-lhes uma carta e os agradeci. Disse que eles cometeram um erro ao não me aceitar e fui para a Universidade de Manchester, uma ótima universidade e um membro do Russel Grupo – grupo das 20 melhores universidades do Reino Unido. Era a mesma universidade que meu pai frequentou.

Para ser claro, três gerações atrás minha família era uma família humilde do leste da Nigéria, que não era rica, mas tinha uma forte confiança e fé que cada geração seria mais capaz do que a anterior. Agora eu já faço parte da segunda geração de diplomatas da minha família. E eu tenho grandes expectativas para o meu filho.

No Reino Unido, os candidatos negros tendem a ser aceitos em universidades onde já existe uma presença elevada de minoria étnicas. Embora possamos ter uma boa representação de estudantes negros na universidade, os negros são altamente sub representados entre os professores. Há menos de 100 professores negros nas Universidades do Reino Unido. Além disso, apesar de altas proporções de negros no ensino superior, os estudantes negros ainda são menos propensos a conseguir rapidamente um emprego depois da Universidade, em comparação com seus colegas brancos. Cerca de 55% dos estudantes negros encontram um emprego dentro de um ano de graduação, em comparação com 66% dos colegas brancos.

No entanto, uma coisa que é muito saudável no Reino Unido e que me orgulha é que a representação de minorias no ensino superior é falada abertamente, monitorada e medida pela sociedade e órgãos governamentais.

O Reino Unido tem como política nacional a estratégia e o objetivo de melhorar e aumentar a diversidade nas nossas faculdades e universidades, já que essas são representativas da sociedade. Acreditamos que isso é importante não só para a sociedade, mas essencial também para o desenvolvimento econômico. O progresso deve ser determinado pelo talento e não pela condição socioeconômica. Nossa estratégia nacional para inclusão agora no Reino Unido é aquele que se concentra em melhorar o acesso às universidades, incluindo o envolvimento com as comunidades e as escolas públicas, para que os alunos comecem desde cedo a pensar no que querem estudar na universidade, pensando que também podem entrar em universidades de elite.

Trata-se de garantir que esses estudantes na universidade recebem o apoio que necessitam para se manter nos anos de estudo e que possam pensar em uma pós-graduação. E além disso, percebemos que não é só conseguir atrair mais alunos para as universidades, mas também garantir que eles tenham acesso a empregos de qualidade ao acabarem os estudos. Neste contexto, o setor público e privado tem um papel a desempenhar.

Quando eu estava na universidade, uma das experiências mais ricas que tive foi um estágio fornecido pelo HSBC. Esse foi um estágio que era para negros e difícil de entrar. Por dois meses você tinha que aprender tudo sobre o banco, trabalhar junto com altos executivos, recebendo treinamento em habilidades de entrevistas e a oportunidade de encontrar outros estudantes negros de universidades de todo o Reino Unido. Você teria um bom salário pago e no final do programa, cada estagiário teria garantido uma entrevista para o programa de pós-graduação do HSBC. Foi uma das experiências mais gratificante e positiva que já tive. Programas como esse são incentivados no Reino Unido e uma série de empresas britânicas tem esta forma de responsabilidade social corporativa como uma política.

O que eu também me orgulho é o papel que as minorias negras e étnicas estão trazendo para a próxima geração de líderes através do envolvimento com o governo e aconselhamento dos jovens. Eu mesmo, por exemplo, faço esse aconselhamento de jovens. Eu também continuo a puxar os meus limites para alcançar e contribuir para os objetivos do nosso ministro. Em conclusão, o conselho que eu daria a qualquer pessoa negra no ensino superior é que você é responsável por moldar sua própria experiência. Com o historiador Arthur Slessinger disse: “Auto-conhecimento para um indivíduo, bem como uma nação começa com a história”.

Você precisa conhecer a si mesmo. Você precisa saber a história da sua nação e seu lugar nela e seu desdobramento. Armado dessa autoconsciência, você precisa reconhecer o seu potencial. O seu propósito é da contribuição que você quer dar ao seu país, porque é o seu país. E então você precisa equipar-se para atingir o seu propósito com a confiança e tenacidade, inclusive de seus antepassados, como, por exemplo, o que será celebrado no dia 20 de novembro.

About Luana Seabra

Luana Seabra has an International Relations background, works with Communication and has quite an obsession for music-related things. She joined the Embassy in 2010 to work with Public Diplomacy, having…

Luana Seabra has an International Relations background, works with Communication and has quite an obsession for music-related things. She joined the Embassy in 2010 to work with Public Diplomacy, having previously worked in Itamaraty and UNODC. She is interested in Political Communications, Soft Power, Digital Diplomacy, Development and Human Rights.

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